O tema dos filhos únicos é sensível, mas deve ser alvo de atenção numa altura
em que a taxa de natalidade é baixa e em que há cada vez mais filhos únicos.
Esta semana
um artigo do jornal Público chamava a atenção para o problema com o título “Quanto pode custar ao país uma geração de filhos únicos?”. O texto acabava por
aprofundar o tema da superprotecção aos filhos, que considero não ser um
exclusivo dos filhos únicos (sim, sou filha única).
Conheço
benjamins que são muito mais protegidos e até mimados do que os filhos únicos.
No fundo, tudo depende da educação – e, diga-se a verdade, por vezes depende da
maior predilecção dos pais por este filho ou por aquele em detrimento dos
outros.
Felizmente
não me revejo no retrato do filho único que é traçado no artigo. Se calhar
porque cresci a ouvir muitas vezes a palavra “não”, que os pais hoje em dia têm
dificuldade em pronunciar. Se calhar porque ainda sou da geração de brincar na
rua com os vizinhos, de brincar com os primos, de brincar com os amigos – e de
partilhar tudo com todos. E de chafurdar na terra a inventar bolos de
chocolate, ficar com as unhas cheias de terra, e ainda ouvir o belo do ralhete e
até a palmada da mãe quando tinha o infeliz tique de roer as unhas…
É verdade que
a realidade hoje é outra para a maioria das crianças, tal como lembra o artigo.
Mas também é verdade que muitos pais não sabem lidar com as birras das crianças,
e preferem satisfazer as suas exigências para que se calem rapidamente, em vez
de as contrariar. Há sempre aquela máxima: se a birra não inclui lágrimas, é
porque é mesmo chantagem.
Concordo com
o argumento que ser pai ou mãe hoje em dia não é a mesma coisa do que no tempo
em que eu era criança. Agora há muita angústia em torno da parentalidade, do
que se espera da figura do progenitor, do sacrifício pessoal que se exige aos
pais num mundo em que a carreira profissional é cada vez mais rodeada de
pressão.
Alguns destes
problemas talvez ficassem resolvidos com uma política cabal de protecção à natalidade,
mas também à maternidade e paternidade. A substituição das gerações não tem
sido preocupação dos Governos, sempre preocupados apenas com problemas de curto
prazo. Também não tem sido preocupação da sociedade em geral, porque mesmo no
tempo da ilusória prosperidade não se exigiram este tipo de políticas semelhantes
às dos países nórdicos.
Um dia havemos de pagar o preço por tudo isto e nessa
altura a expressão “sustentabilidade da Segurança Social” vai deixar de fazer
sentido.