sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Chupistas nunca mais



Cheguei à conclusão que há chupistas por todo o lado. E os chupistas são bem piores que os borlistas ou os cravas (por estes últimos, confesso,  não nutro especial simpatia). No final de janeiro li um texto do Miguel Esteves Cardoso (MEC), intitulado "Borlas Nunca Mais" (por acaso li-o à borla na Internet), do qual discordo porque o MEC confundiu borlistas com cravas. Não são bem a mesma coisa.

Como o MEC é o MEC vou tentar equilibrar um bocadinho as coisas e ganhar aqui alguma vantagem moral, já que pela escrita não vou lá. Vou roçar a demagogia, mas, pelo menos, é com a verdade. Se somar as horas todas que fiz em peditórios (naturalmente, de borla) para a Liga Portuguesa Contra o Cancro e as horas que estive, em pé, à porta de um supermercado a recolher alimentos para o Banco Alimentar sou capaz de superar as horas que o MEC foi à borla falar à televisão, a um programa do Herman ou qualquer coisa parecida. Isso faz de mim um escravo moderno? Penso que não.

O MEC estava muito ofendido porque, naturalmente, recebe muitos convites (que não considera convites, mas uma espécie de cantos da sereia esclavagistas) de pessoas que o admiram, que querem que ele faça parte de um projeto. "Borlistas de merda!", pensará ele. E continuará, imagino eu: "Eles gostam de mim, mas que se lixe, não sou pai de ninguém. Não sou escravo. Não vão ser correspondidos, por isso é que o Amor é Fodido".

O MEC é um ídolo para gerações. Da minha, da antes da minha e da antes dessa. Se eu um dia, hipoteticamente falando, lançasse um livro, pensaria no Miguel para o apresentar. Porque o admiro.  E não teria dinheiro para lhe pagar. Ia-lhe pedir que cometesse o sacrifício de perder 45 minutos da vida dele com um "projeto" meu e automaticamente tornava-me num escravocrata. Por outro lado, se um Trump, um Amorim ou um Belmiro oferecesse uns bons milhares de euros para o MEC ir uma apresentação, já seriam bons-samaritanos, gente justa e honesta, que contrasta com um palhaço borlista como eu.

MEC, quando lhe fizerem esses "convites" esclavagistas, há duas palavras que costumam resultar: "Não, obrigado". Não é preciso menorizar as pessoas que o abordaram - que antes disso leram as suas crónicas, compraram os seus livros - e que apenas fizeram uma pergunta. Perguntar não ofende. Já pensou que eles não têm a culpa de não ter nascido génios, de não terem um amigo na televisão ou de não serem de uma família com consoantes duplas e ípsilons no lugar dos i's?

Se eu fosse o MEC, tanta borla que eu dava. Sou o Rui, nasci em Salvaterra, e escrevo textos medíocres como este. Quem me dera ter mais convites, quem me dera ajudar mais. Mas, infelizmente, não nasci génio.  A mim até me convidam para me dar mais dinheiro. A última vez convidaram-me para ganhar seis vezes mais. Fiquei sentado na mesma cadeira, a fazer o que gosto: ser jornalista. Um dia, se tiver sorte (e mérito), talvez me estejam sempre a ligar a pedir borlas por me admirarem. E sabe que mais MEC? Eu, se puder, direi que sim. Se não puder, direi apenas: "Não, obrigado".

Tem graça  porque eu, quando dou uma borla a alguém, sem receber nada em troca, não me sinto nenhuma Madre Teresa, nenhum Peter Parker nem sequer um Di Natale. Mas grito, para mim mesmo, em silêncio, qualquer coisa do género: "Como é linda a puta da vida".

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