Como o MEC é o MEC vou tentar equilibrar um bocadinho as coisas e ganhar aqui alguma vantagem moral, já que pela escrita não vou lá. Vou roçar a demagogia, mas, pelo menos, é com a verdade. Se somar as horas todas que fiz em peditórios (naturalmente, de borla) para a Liga Portuguesa Contra o Cancro e as horas que estive, em pé, à porta de um supermercado a recolher alimentos para o Banco Alimentar sou capaz de superar as horas que o MEC foi à borla falar à televisão, a um programa do Herman ou qualquer coisa parecida. Isso faz de mim um escravo moderno? Penso que não.
O MEC estava muito ofendido porque, naturalmente, recebe muitos convites (que não considera convites, mas uma espécie de cantos da sereia esclavagistas) de pessoas que o admiram, que querem que ele faça parte de um projeto. "Borlistas de merda!", pensará ele. E continuará, imagino eu: "Eles gostam de mim, mas que se lixe, não sou pai de ninguém. Não sou escravo. Não vão ser correspondidos, por isso é que o Amor é Fodido".
O MEC é um ídolo para gerações. Da minha, da antes da minha e da antes dessa. Se eu um dia, hipoteticamente falando, lançasse um livro, pensaria no Miguel para o apresentar. Porque o admiro. E não teria dinheiro para lhe pagar. Ia-lhe pedir que cometesse o sacrifício de perder 45 minutos da vida dele com um "projeto" meu e automaticamente tornava-me num escravocrata. Por outro lado, se um Trump, um Amorim ou um Belmiro oferecesse uns bons milhares de euros para o MEC ir uma apresentação, já seriam bons-samaritanos, gente justa e honesta, que contrasta com um palhaço borlista como eu.
MEC, quando lhe fizerem esses "convites" esclavagistas, há duas palavras que costumam resultar: "Não, obrigado". Não é preciso menorizar as pessoas que o abordaram - que antes disso leram as suas crónicas, compraram os seus livros - e que apenas fizeram uma pergunta. Perguntar não ofende. Já pensou que eles não têm a culpa de não ter nascido génios, de não terem um amigo na televisão ou de não serem de uma família com consoantes duplas e ípsilons no lugar dos i's?
Se eu fosse o MEC, tanta borla que eu dava. Sou o Rui, nasci em Salvaterra, e escrevo textos medíocres como este. Quem me dera ter mais convites, quem me dera ajudar mais. Mas, infelizmente, não nasci génio. A mim até me convidam para me dar mais dinheiro. A última vez convidaram-me para ganhar seis vezes mais. Fiquei sentado na mesma cadeira, a fazer o que gosto: ser jornalista. Um dia, se tiver sorte (e mérito), talvez me estejam sempre a ligar a pedir borlas por me admirarem. E sabe que mais MEC? Eu, se puder, direi que sim. Se não puder, direi apenas: "Não, obrigado".
Tem graça porque eu, quando dou uma borla a alguém, sem receber nada em troca, não me sinto nenhuma Madre Teresa, nenhum Peter Parker nem sequer um Di Natale. Mas grito, para mim mesmo, em silêncio, qualquer coisa do género: "Como é linda a puta da vida".
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