Não tive o prazer (?) de assistir ao Festival da Canção no
sábado, mas a publicidade que a RTP tem feito com as cinco músicas mais votadas
lembrou-me dos festivais de outros tempos. E fez-me voltar a sentir vergonha
alheia pelos festivais do presente.
Não sou do tempo em que o país parava para ver a sô dona
Simone representar o país no estrangeiro, mas ainda me lembro dos dias em que
Festival Eurovisão da Canção era O acontecimento do ano – mesmo que soubéssemos de
antemão que só invertendo a tabela poderíamos alcançar o pódio. Apesar de tudo (e
acho que não era apenas ingenuidade infantil, o sentimento era comum aos
adultos lá de casa), acreditávamos que era possível ficar bem classificados e
acompanhávamos a votação com um friozinho na barriga, sempre à espera dos pontos
de salvação nacional dos países onde Portugal tinha uma forte comunidade de emigrantes.
E, mesmo ficando mal classificados, continuávamos a ter orgulho em Portugal. Nós
cantávamos bem e tínhamos músicas bonitas, a culpa era dessa Europa injusta,
que não valorizava os pequeninos.
Hoje já ninguém acredita. Há muito que o Festival da Canção
se tornou num espelho das angústias do país. Em 2011 deu-nos para ser
irreverentes e mandámos os Homens da Luta a Dusseldorf, talvez
à espera que os alemães se comovessem e mandassem acabar com a austeridade. Como não resultou, voltámos à bimbalhice e às músicas mais-do-mesmo dos últimos anos. E
nós que até temos tão bons cantores e compositores em Portugal - onde é que eles andam quando a malta faz castings para o Festival?
Se 2014 fosse 1993, neste momento eu estaria em êxtase. Há
uma cantora figueirense entre os cinco finalistas do Festival da Canção (que
orgulho que isto seria nos anos 90, caraças!). Chamou-me a atenção a cara dela quando vi a publicidade na
televisão, achei que a conhecia de qualquer lado. Não, não andámos juntas na escola: à primeira vista, parecia-me a Susana, a moça que cantou o “Nesta Noite
Branca”, com os Anjos, em 1999 (talvez um dia escreva sobre a minha paixão de adolescência
pelos Anjos, ou talvez o meu sentido de limite de exposição ao ridículo em
público me impeça de o fazer) e resolvi investigar. Não consegui perceber se a
Susana dos Anjos e a Susy do Festival da Canção são uma e a mesma pessoa; mas foi
aí que descobri que a Susy é da Figueira da Foz e que foi rainha do Carnaval da
cidade este ano, ao lado do Emanuel (que, valha-me Deus, escreveu a música que ela
canta no festival). O resultado é este….
…. e faz-me querer voltar a 1993, quando éramos (ou pelo
menos acreditávamos convictamente ser) um povo com dignidade. Esta, para mim, é e
será sempre a música-sinónimo de Festival da Canção. Não será melhor pedaço de poesia musicada alguma fez feito em Portugal mas ainda hoje, quando a
ouço, me vejo com uns orgulhosos oito anos, a cantar no palco que era o tapete do meu quarto.
Eu bem que desconfiei que o Emanuel tinha dedo nessa música da Suzy!!!! Mas ainda não me tinha dado ao trabalho de ir procurar. Agora descobri isto, e é para ouvir e ler até ao fim! http://www.escportugal.pt/2014/02/fc2014-o-escportugal-revela-mais-uma.html
ResponderEliminarBom trabalho de pesquisa, SH!
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