O Eusébio deixou de jogar no ano em que eu nasci. Terminou a carreira do lado de lá do Atlântico, nos Buffalo Stallions, uma equipa de futebol indoor, na época de 1979/80. Por isso, nunca vi o Rei a marcar, sem ser nas imagens de televisão que me parecem estranhamente aceleradas quando ele arranca detrás dos defesas. Mas não faz mal, foi sempre através dos olhos do meu pai que vi o Eusébio. O olhar do miúdo de 10 anos que ia a pé de Campolide ao antigo Estádio da Luz para ver o Benfica jogar. A surpresa do miúdo de 13 anos que numa noite de maio foi ver o jogo de apresentação de outro pouco mais velho que ele e descobriu o melhor jogador do mundo. A atenção do miúdo que ouvia os relatos quando o Benfica jogava fora, mas que não perdeu mais de dois ou três jogos do Eusébio em casa. O orgulho do miúdo de 18 anos que viu o Pantera Negra levar a seleção de um país que se desfazia ao terceiro lugar do Mundial. Descobri o Eusébio quando descobri que o meu pai também tinha sido miúdo e que não tinha sido sempre o pai que me punhas às cavalitas e me levava aos jogos apesar de eu me queixar de não haver repetições e de os amigos de vez em quando dizerem uns palavrões, perseguidos sempre por um "olha a miúda". Por isso, depois de ver os vídeos do Rei espalhados pela internet, ou em vez de ver os vídeos, vou pedir ao meu pai que conte aquela vez que demos cinco ao Real Madrid do Puskas e estava tanta gente que tiveram de construir uma bancada que deixou os cangondeiros agarrados e o Eusébio marcou dois golos.
Adeus Eusébio.
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