sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Gatos, ratos, veados e minaretes

















Para começar, um bocadinho de poesia, em homenagem a um livro do Manuel Alegre, que por acaso é prosa, mas dá pelo nome de “Cão como nós”. Cá vai:

Five cats is to much
One mouse too
Policies like that
Should be at the Zoo


Portugal está cada vez mais próximo dos Estados Unidos e não é só na dívida brutal, nem por culpa de potenciais transbordos de armas químicas, mas sim por propostas bizarras, oriundas de órgãos de soberania. Eu sei que é difícil chegarmos ao nível de "bizarrice" dos EUA: É preciso lembrar que no Alabama é proibido andar com gelados no bolso; Na Califórnia não se pode andar de bicicleta dentro de uma piscina; no Hawai não se pode carregar moedas na orelha; No Texas os jovens não podem ter cortes de cabelo alternativos; No Delaware são proíbidas as calças de cintura apertada; No Arizona é proíbido aos cidadãos terem mais de dois dildos em casa; No Wiscosin os restaurantes estão proibídos de vender torta de maçã sem queijo; Entre outras.

Não chegamos aos calcanhares do Tio Sam, mas estamos a esmerar-nos para isso, como demonstram os últimos meses. Talvez a proposta que mais se aproxime dos norte-americanos seja a de cadastrar os pais fumadores. Mas vamos à poesia e aos gatos (com promessa de não haver referência à Autobiografia Sumária de Adília Lopes). Comecemos pelo primeiro verso:  Five cats is to much. É verdade: houve uma proposta do Ministério da Agricultura que pretendia limitar o número máximo de animais domésticos a 2 cães e 4 gatos. A proposta veio de um ministério CDS, mas isso não impediu o deputado do CDS de considerar a proposta de “fascismo higiénico”.

Há dias o ridículo voltou a surgir em forma de proposta, mas pela mão de um rato. O procurador João Rato – a pedido da Procuradoria Geral da República –  foi o autor de um relatório que propunha a realização de escutas a jornalistas, juízes e magistrados para combater as violações do segredo de justiça. Ou seja, mandava-se a água do banho fora com o menino lá dentro. O menino era a democracia, que seria sacrificada devido à incompetência do próprio Ministério Público em manter os seus processos confidenciais.

Por último, os veados. Sim. Falo-vos da proposta de referendo à adoção e co-adoção por parte de casais homossexuais. Calma. Alcamem aí os ímpetos arco-íris e não me acusem já de homofobia. Odeio a palavra “veado” para definir um homossexual ou qualquer outra que tenha um sentido ofensivo ou insultuoso (No filme Declaro-vos marido e...marido parece que "picolho" é bem pior). O que eu acho é que o referendo à adoção e co-adoção é o mesmo que chamar “veado” a um homossexual. É insultuoso, vulgar, retrógrado, reacionário e ofensivo.
A proposta de referendo hoje aprovada no Parlamento entra para o anedotário nacional. Para já, porque é uma hipocrisia em si mesma, quando neste momento, na prática, já existe adoção e co-adoção homossexual. Um pai homossexual que tenha a guarda de um filho, pode viver e casar com outro homem. Não há nada que o proíba. Há é uma falta de consagração de direitos de um progenitor sobre um filho em caso de separação ou falecimento do companheiro. O que é inadmissível.

Nos próximos meses não faltarão os profetas da desgraça ao estilo Fox News a alertarem para todos os males que a adoção por casais homossexuais pode ter. Aposto que vai haver estudos "científicos" e tudo. Mas o amor não tem género ou orientação sexual e se a adoção e a co-adoção forem chumbadas em referendo, o País anda uns anos para trás. É uma “vergonha”, como se gritou nas galerias.

Já para não falar dos milhões que se vão gastar com o referendo, falando em bom troikês. A adoção por casais homossexuais devia ser votada na Assembleia da República. A atual maioria obriga-me aqui a chegar ao ponto de citar Sócrates, o político: “Às vezes uma maioria tem de defender os direitos de uma minoria”. Hoje pôs-se um assunto sério na mão da democracia participativa, onde proliferam episódios vergonhosos, como a proibição de minaretes na Suíça. O povo tem a palavra. Veremos como decide. Veremos como decidem aqueles que andaram a partilhar fotos do Mandela nas redes sociais com letras de WordArt por cima. Não me importo que, por defender isto, me chamem veado. Não tem mal. Antes cervo em nome da evolução dos costumes, do que servo dos costumes.

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