quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Cristiano Ronaldo & David (de Miguel Ângelo): a partir pedra até à perfeição


Quando quer falar de jogadores de futebol, Manuel Alegre faz obras de arte: belos poemas (que, à força da rima, fazem dele a pessoa que mais usa a palavra teorema, desde Pitágoras). Nós, aqui no Queijo Trivial, somos mais humildes: apenas comparamos jogadores a obras de arte. E, na minha crónica inaugural neste espaço, falo da figura que promete marcar o ano: o David de Miguel Ângelo, ou seja, Cristiano Ronaldo.
Vaidoso, CR7 não enjeitaria uma homenagem sob a forma de estátua de uma figura anatómica perfeita, de 5,17 metros de altura (embora talvez aproveitasse para tapar-lhe as miudezas e assim promover a sua linha de roupa interior).
 Porém, a comparação é com o essencial - vai além da vaidade. A obra de Miguel Ângelo é um imenso trabalho de aperfeiçoamento - um bloco de pedra trabalhado ao longo três anos - como o futebolista madeirense o é, dentro e fora de campo, de tomahaws aprimorados, biceps tonificados e imagem socialmente polida. Da pedra talhada por Alex Ferguson e Jorge Mendes, um adolescente rebelde mal nascido na Madeira, já nada resta. É um trabalho de génio, rigor e pormenor, perante o qual o mundo abre a boca de espanto.
Depois, há o contexto e o significado. A estátua mostra David na expectativa, antes de confrontar Golías, o desafio que todos julgavam impossível de superar (não será diferente do que, em 2014, se acha da hipótese de Ronaldo levar Portugal ao título mundial de futebol). E, da mesma maneira que o David de Miguel Ângelo se tornou o maior símbolo da república de Florença, no Renascimento, também Ronaldo é o maior ícone de um país cada vez mais carente de heróis.
É preciso continuar? Da perfeição teórica e aspiração à imortalidade de Cristiano Ronaldo, está dito o essencial. Quanto ao melhor jogador do mundo (sim, Messi), a comparação fica para outra ocasião.

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