sábado, 4 de janeiro de 2014

Personagem do ano: um princípio

Caros concidadãos,
escrevo-vos hoje sobre a necessidade de corrigir uma injustiça histórica: é urgente criar e disseminar a eleição da personagem de ficção do ano.
Mais do que heróis e vilões de carne e osso, do que precisamos é de figuras ficcionais que nos inspirem, nos façam sonhar, nos coloquem questões ou nos despertem o mais profundo asco. Criações que sejam demasiados boas e (in)verosímeis para ficarem presas apenas na gaveta da ficção.
Tomem 2013 como exemplo. Figura nacional? Daniel, o narrador e figura maior de Índice Médio de Felicidade, de David Machado. Quem melhor pode representar o Portugal de 2013 do que um lírico desempregado, sem rumo nem teto, à deriva ao mesmo tempo que tenta colar os cacos das vidas em volta?
Figura internacional? Walter White, o pai de família canceroso que se transformou num senhor do crime e levou à fama mundial a brutalissima série Breaking Bad. Sim, a Time também o elegeu como personagem ficcional do ano (ok, a ideia talvez não seja assim tão original). A impressionante mudança do pacato professor de química tornado um traficante de metanfetaminas sem escrúpulos tem leitura mundial. Não importa se Walter desafiava os limites por amor à família ou para deixar uma narsísica prova de vida: a sua história diz muito sobre os primatas que somos.
Sim, as personagens principais de Índice Médio de Felicidade e de Breaking Bad são as minhas figuras do ano (ou não acham que as outras, de Paulo Portas a Rui Moreira ou do Papa Francisco a Vladimir Putin, são também produtos de ficção?). Se estiverem comigo, em 2014 podemos votá-las todos juntos.

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